«Um escritor nunca esquece a primeira vez em que aceita umas moedas ou um elogio a troco de uma história. Nunca esquece a primeira vez em que sente no sangue o doce veneno da vaidade e acredita que, se conseguir que ninguém descubra a sua falta de talento, o sonho da literatura será capaz de lhe dar um tecto, um prato de comida quente ao fim do dia e aquilo por que mais anseia: ver o seu nome impresso num miserável pedaço de papel que certamente lhe sobreviverá. Um escritor está condenado a recordar esse momento pois nessa altura já está perdido e a sua alma tem preço.»
O Jogo do Anjo – Carlos Ruiz Zafón
Oferta de Natal, este livro, que logo me chamou a atenção com este texto na contra-capa. Mal sabia eu que era o início da história. Envolvente, até agora.
Revejo-me, ou melhor não me revejo a dar esse salto. Já estive à porta de uma editora com umas quantas folhas impressas e não consegui entrar. Será que foi o guardião da minha alma a impedi-lo? Ou apenas a razão terrena de ficar serenamente no anonimato?
Como a minha escrita, bastam-me poucas coisas para sobreviver. Esta aproximação cibernética é o suficiente. Até ver…. Ou o guardião se desleixar!
(sobreviver não é viver) invocar o guardião e a alma é um verso livre… a razão terrena é a mais plausível. mas pessoalmente penso que o livro papel é mais mito de outras eras do que um facto. em 1993 publicaram-se em Portugal uns 6000 livros. em 1996 quase 8000, isto há mais de 10 anos.. o livro perdeu importância, no labirinto de papel serias o mesmo que és no labirinto cibernético, um entre muitos (espero que te tenha tirado um pouco do peso mítico e te decidas a dar o passo com o pé direito, até porque há pessoas que gostariam de te ler) beijinho, Ana
Acrescentando uma acha à fogueira: no outro dia fui à apresentação do livro de um grande amigo meu. Uma surpresa, deixa.me que te diga, mas muito muito positiva. Um homem nada dessas coisas de “a escrita é Minha”, de marketing de biblioteca ou sequer de “olhem, escrevi um livro”. Foi com uma naturalidade brutal que contou como um dia achou que tinha uma boa ideia, pegou nela com convicção e como sabia que ninguém o conhecia e que portanto a ideia de “ser descoberto num shopping qualquer” estava posta de parte, foi com a sua ideia bater à porta de um sem número de editoras. Bateu, bateu, bateu, até que uma lhe disse finalmente que sim sem mas [curiosamente, uma editora mais “visível” viria a dar.lhe o sim depois de ter assinado a papelada com a primeira editora]. E ali estava ele, com os representantes da editora que lhe disse o sim, com um vereador da câmara, com amigos e alunos à sua frente, não tanto “orgulhoso” de ter descoberto as formas da literatura mas mais por ter dado o passo em frente que era preciso para concretizar um pequeno desejo que tinha. Que nem era um sonho. Era uma curiosidade. No meio daquilo tudo, ainda nos agradeceu a nós, amigos, e dirigiu.se aos alunos de hoje que lutassem sempre pelos seus desejos. Ainda agora estou a contar isto e estou com a lágrima no olho.
Só por se passar para outro modo de escrita/visibilidade/comercialização não quer dizer que se esteja a vender a alma ao diabo. Quantas vezes não o fizemos já de borla nos nossos blogues?
Beijoca enormérrima
Pois é, nada de perceptível poderei dizer. A minha moeda não tem apenas duas faces. é uma moeda chinesa, com um quadrado no meio. escondo-me atrás dela e vejo o mundo pelo quadrado.
Sou de pouco em quase tudo: palavras, ambições, conquistas, paredes, tectos e janelas.
Sobreviver é levantar de manhã e voltar a casa à noite, viver é o resto.
Vender a alma a quem quer que seja não está em causa. Dar a cara sim. Por um dia ou mês… e tudo o que arrasta.
Beijinhos e boa noite
Quando o raio desse guardião deixar, eu quero cadeira reservada na primeira fila, com a MAD à direita e a Ana à esquerda ou vice-versa, só-porque-sim.
Beijos!
M
aí em cima já dás um quarto de cara no quadradinho, já é um princípio.. 🙂 a cara não significa muito tozz. quem me lê conhece-me melhor do que quem me vê na rua. envelopes. beijinho de novo
o diabo já só compra almas que já estejam á venda ,actualmente tem muitas armazenadas e numa conversa que tive com ele garantiu-me que a literatura para ele foi sempre um fraco negócio ao contrário de outras actividades humanas ,quem lhe lixou o esquema foi o Artaud quando disse que as pessoas escreviam para sair do inferno .:))
Por isso deixa lá o guardião em paz e vai á editora ,dá o salto porque o inferno e de onde queres sair agora..
um abraço
Rui
(…)
(anita-1) marés, o guardião é um gajo lixado…. agora anda em marcação cerrada para ir também, nem que seja de cadeira de rodas 🙂
(ana-2) meia, as minhas jogadas de antecipação moiem-me sempre a cabeça, impedindo muita coisa. No meu trabalho dou a cara todos os dias e cá estou…
Beijinhos
(…)
sôr comandante rui!!! 😀 tens sempre uma boa citação, esta então, juntamente com a imagem diabólica é já brasa!
Abraço
🙂 isto não deve ser bom, mas continuo com a mesma opinião!