Posted in Escrita, Vida, tagged Gray, Pessoa, Poesia, Puré on 19 /Fevereiro/ 2013|
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aqui no chão onde estou à espera, ouço as gaivotas a voar lá no alto, onde não chego nem quero chegar.
espero o fim, guardo o princípio, como se fosse a água pura que brota do passado, onde vão desaparecendo coisas e amigos e sentimentos, talvez o ciclo se vá sumindo, intermitente.
vou bebendo, vou esquecendo, num registo perdido na cinza fria.
todos os filtros que anularam a visão próxima, asfixiam a janela aberta ao calor do sol e da memória, fecham-se as cortinas e os livros por acabar, a envolvência descontínua do desejo alcançável torna-se ignorância, circunflexa.
mas continua a haver amanhã, ir e voltar, maré cheia e quarto minguante, inércias e sensações.
poemas de poetas mortos, luzes de estrelas eternas.
um viver singular, numa fé plural.
partir devagar.
∫
Não basta abrir a janela
Para ver os campos e o rio.
Não é bastante não ser cego
Para ver as árvores e as flores.
É preciso também não ter filosofia nenhuma.
Com filosofia não há árvores: há ideias apenas.
Há só cada um de nós, como uma cave.
Há só uma janela fechada, e todo o mundo lá fora;
E um sonho do que se poderia ver se a janela se abrisse,
Que nunca é o que se vê quando se abre a janela.
Alberto Caeiro
38.749816
-9.290147
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