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já
já é tarde
para dar corpo à raiva
sem que ninguém saiba
que a vida nunca guarde
aquilo que não há
dentro dum copo vazio
sujo
partido
breve horizonte ferido
sem lágrimas de sabujo
vénias a mais para compadrio
(…)
deixem-me ser eu e as minhas portas fechadas
as folhas e as memórias perdidas na noite
a lucidez linear das diagonais difusas
o valor incógnito da equação gelada e solúvel
o outono ímpar de outros silêncios tangíveis
a luz imperceptível no firmamento das cinzas quentes
enciclopédia maior de todas as escusas
ébrio de tanta sobriedade
actor sem palco nem bastidores
(…)
por mim não te fascines
toda uma sinfonia desafinada
ainda que imagines
uma abóbora cheia de nada.